sábado, 14 de dezembro de 2013

PROFESSORA É A PRIMEIRA TRAVESTI DO PAÍS A ATUAR EM UNIVERSIDADE.

Na última segunda-feira (9), o Brasil registrou mais um momento histórico na luta pelos direitos humanos e contra a intolerância. Foi empossada, na Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Ceará, a única professora travesti com doutorado do país. Desta forma Luma Nogueira de Andrade se torna a primeira travesti a integrar o quadro de docentes efetivos de uma universidade pública federal. Ela irá atuar pelo Instituto de Humanidade e Letras da instituição.

O fato inédito pode servir como exemplo e incentivar outras situações semelhantes no país, segundo a advogada Maria Berenice Dias, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). "Sem dúvida nenhuma esse é um momento de conquista e de vanguardismo, principalmente por se tratar de travestis e transexuais que são os integrantes da comunidade LGBT mais discriminados. Eles ficam completamente expostos e você sabe quando a pessoa é travesti, diferente de gays ou lésbicas", disse.
Segundo Berenice, há uma evasão muito grande nas escolas por parte dessas pessoas e isso faz com que o ingresso de travestis e transexuais nas universidades se torne cada vez mais escasso. "Não sobra muita coisa. Você não vê travestis em outros trabalhos, a não ser prostituição ou no salão de beleza. Eles não têm apoio da sociedade nem da família e isso faz com que as oportunidades para eles sejam reduzidas", explicou a advogada.
"Por isso o caso da Luma serve de exemplo sim, pra todo mundo ver que é possível chegar lá, apesar de todo o preconceito e dificuldades ao longo da vida. Serve de exemplo porque ela teve coragem pra passar por cima de tudo isso e buscar algo que ela queria para a vida dela. É muito perverso o que essas pessoas sofrem desde crianças, é quase impossível de sobreviver", disse ainda Berenice. 
A coordenadora especial de Políticas Públicas LGBT do Ceará, Andrea Rossati, também acompanhou a posse da professora e avaliou o momento como "caro" para Luma e para o movimento LGBT. "Temos que adestrar tigres e leões para vencer o preconceito, seja através da educação, da política e de outras formas. Todos os dias, devemos sensibilizar as pessoas sobre a importância de aprender a conviver com as diferenças”, disse.
Trajetória
Luma nasceu em Morada Nova, no interior do Ceará, criada por pais agricultores analfabetos. Ela concluiu o doutorado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Cerará (UECE) em 2012, e continua a ser a única travesti do país a possuir o título, segundo a Unilab. Antes de se tornar parte do corpo docente da Universidade, ela era professora concursada da rede estadual de ensino e trabalhava como superintendente escolar da Secretaria de Educação do Estado do Ceará.
Ela também possui graduação em Licenciatura em Ciências pela UECE e mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Além disso, foi a ganhadora do 2º Prêmio de Ciências do Ensino Médio em 2005, do Ministério da Educação, pelo projeto "Intimamente Mulher", que desenvolveu com o objetivo de levar adolescentes ao ginecologista. "Naquela época, no interior, as mães achavam que não precisavam levar as meninas ao ginecologista porque acreditavam que eram virgens", explicou a professora. 

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