Por volta das 18h do domingo (08/06) foi finalizada a leitura das propostas realizadas nos Grupos de Trabalho desempenhados no segundo dia da conferência. A extensão da leitura se deu por conta do método aplicado, que foi alvo de críticas do presidente da Parada Gay de São Paulo.
Após um coffe break merecido, teve início a leitura dos destaques de alteração ou supressão total das propostas. Uma certa tensão e bate-boca pairou logo no início da sessão, o motivo: muitos presentes não entendiam que para haver supressão ou alteração tinham de ir lá defender ou contrariar a supressão, ou a alteração do texto destacado.
Entendido o sistema, o trabalho prosseguiu. Entre as polêmicas, a primeira foi em relação há um projeto idealizado no GT Saúde, a respeito da legalização do aborto. Havia destaque para supressão total, o que fez com que as meninas do grupo Colcha de Retalhos entoassem grito de guerra, "legalizar o aborto, direito ao nosso corpo". A proposta foi aprovada.
As 21h realizaram uma nova pausa, agora para as pessoas jantarem e retornarem às 22h, já era óbvio que os trabalhos iriam madrugada adentro. Os trabalhos retornariam às 22h em ponto e todos já demonstravam cansaço e irritação. Nova polêmica surgiria com a proposta na área de comunicação que se pedia a inclusão de crianças travestis e transexuais nas campanhas contra a exploração sexual.
O destaque pedia a supressão total da proposta. Beto de Jesus foi defender a supressão e alegou que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) proíbe a participação de crianças em campanhas publicitárias. Três meninas da ANTRA (Articulação Nacional das Travestis e Transexuais) defenderam o texto e disseram que, há sim crianças travestis e transexuais e citaram exemplos de seus respectivos estados. Foi aprovado o texto e elas também soltaram grito de guerra, "ão, ão, ão, atrás de um silicone também bate um coração".
Os destaques e supressões terminaram às 0h do domingo. Na seqüência iniciaram a leitura das moções de repúdio. Teve atos contra o Pastor e Senador Marcelo Crivela, Magno Malta e contra todos os personagens que de alguma maneira militaram contra a comunidade LGBT, sobrou até para a apresentadora Luciana Gimenez que segundo a moção, "ridiculariza os LGBT em seu programa".
Quem foi alvo de moção de repúdio foi também o presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) Toni Reis. O documento vinha por parte da LBL (Liga Brasileira de Lésbicas). O motivo alegado era a Conferência Distrital LGBT, na ocasião as meninas queriam que o nome do evento fosse LGBT, mas não seria possível, pois se tratava de uma sigla que estava em decreto da República, e assim alegaram ingerência de Toni nos assuntos do movimento de Brasília. Jandira Queiros, que foi defender a moção, disse que tinha sido avisada por e-mail sobre tais "fatos". A moção não foi aprovada e Toni Reis foi aplaudido de pé pela maioria que ali estava.
Após as moções, dois momentos emocionantes e que, com certeza marcaram quem agüentou até a 1h30 da manhã. Primeiro: as professoras de Campo Grande demitidas após se assumirem lésbicas. Noyr Rondora Marques e Carmem Silva Geraldo, que perderam em primeira instância o processo em que alegam serem vítimas de homofobia, subiram ao palco e leram uma carta onde pediam o apoio do movimento para ajudá-las. Foram fortemente aplaudidas por todos, alguns choraram e Carmem quase desmaiou de emoção.
Em seguida, ao lado de Perly Cipriano e Irina Bacci, o sargento que saiu do armário na revista na Epoca, Fernando Alcântara de Figueiredo, pegou o microfone, agradeceu a ajuda do movimento e dos parlamentares, e ainda ressaltou que teme pela vida de seu companheiro, Laci Marinho de Araújo.
Assim, por volta das 2h da manhã encerrou-se a I Primeira Conferência Nacional GLBT. Agora resta esperar e torcer para que o Presidente Lula faça valer as belas palavras que fez ecoar no dia da abertura da conferência, "faremos todo esforço para aprovar tudo aquilo que for possível".