O padre Edilson Duarte assumiu, no depoimento dado à CPI da Pedofilia, no sábado, 17, que era gay e que se relacionou com três ex-coroinhas menores de idade. O depoimento aconteceu no Fórum Estadual de Arapiraca, na cidade que fica a 146 quilômetros de Maceió, e foi conduzido pelo senador Magno Malta (PR-ES).
Os ex-coroinhas Cícero Flávio Duarte e Fabiano Vieira, que acusavam o padre Edilson de ter abusado sexualmente deles, ficaram frente a frente com o religioso. Pressionado para que confessasse que abusou dos ex-coroinhas, quando eram menores, ele assumiu.
“Eu não posso mentir, sou mesmo homossexual e fiz sexo com o Flávio e com o Fabiano quando os dois tinham 16 anos de idade”, disse o padre para espanto da platéia, inclusive de dois irmãos seus, que são militares e que imediatamente se retiraram do local ao ouvir a revelação.
Segundo o padre Edilson, uma das vezes que fez sexo com Fabiano foi dentro da Concatedral de Arapiraca. Além disso, confessou que presenteava o jovem com o dinheiro das doações dos fiéis. Segundo o religioso, os padres Luiz Marques Barbosa e Raimundo Gomes também abusavam sexualmente dos jovens.
"Isso é um absurdo. Uma mentira deslavada", retrucou monsenhor Luiz Barbosa, que foi filmado fazendo sexo com o ex-coroinha Fabiano Silva Ferreira, 20. O padre Edilson pediu proteção à CPI. "Peço segurança porque o monsenhor Raimundo é muito perigoso e pode querer acabar com a minha vida, depois desse depoimento", disse.
Vera Fischer, Simone e Mônica – O padre Edilson contou que a casa religiosa na cidade de Barra de São Miguel era utilizada para orgias entre os menores e os padres. Segundo ele, o bispo Dom Valério Brêda era chamado de Vera Fischer, o monsenhor Luiz Marques, de Simone, e o padre Raimundo Duarte, de Mônica. Os ex-coroinhas afirmaram que os padres os levavam para a casa para “retiros espirituais” e que davam bebidas alcoólicas aos garotos.
"Às vezes eles nos davam R$ 5, R$ 10. Era um cala boca para que a gente não contasse, como se fôssemos garotos de programa", contou Cícero Flávio. De acordo com o senador Magno Malta, o padre Edilson terá direito à redução da pena se denunciar demais religiosos e outros casos de abuso dos padres da congregação de Arapiraca. Segundo Malta, a CPI deve ser prorrogada em virtude das denúncias graves. O padre Edilson também disse que iria conversar com sua advogada sobre o processo de delação premiada.
Troca de acusações – Já neste domingo, 18, o monsenhor Luiz Marques disse que Dom Varério Brêda sabia dos abusos sexuais do padre Edilson, pois ele havia lhe comunicado. Sobre a sua acusação de pedofilia, ele negou. Sobre o vídeo, no qual aparece fazendo sexo com Fabiano, ele diz que só aconteceu naquela ocasião, pede desculpas e se compara a Jesus.
“Falo feito Jesus, tiraram minha roupa, cuspiram em mim e me crucificaram. Isso aconteceu com ele e está acontecendo comigo. Talvez eu mesmo tenha me crucificado. Queria que vocês atendessem ao meu clamor: perdoem-me”, disse o padre Luiz. Neste domingo, foram apresentados materiais recolhidos na casa do monsenhor de acordo com o mandato judicial. Lá encontraram vinte garrafas de bebidas alcoólicas e um lubrificante íntimo. “É normal eu oferecer bebida a uma visita. Já o creme vaginal foi alguém que esqueceu lá”, alegou o monsenhor.
Por sua vez, o padre Raimundo Gomes negou ter praticado pedofilia. “As denúncias partiram fruto de uma vingança já que ex-coroinhas tentaram me extorquir e não conseguiram. Sou padre por vocação, tenho respeito a Deus, às pessoas e aos coroinhas. Nunca abusei e nem peguei em órgão genital de coroinha no altar. Isso seria impossível”, disse. Raimundo também pediu proteção policial.
Ameaças de morte – Outra gravação feita pelos ex-coroinhas está em poder da polícia. Nela, aparece o padre Edilson Duarte ameaçando Fabiano. O padre Edilson dizia que o ex-coroinha só teria a perder caso o denunciasse. Depois comenta, de forma irônica e com trejeitos de bicha. “Vamos estar lindas e maravilhosas velando o corpo dele”. Segundo Magno Malta, é chocante esse tipo de ameaça. “O que choca é que envolve religiosos. Que ele é homossexual e religioso, tudo bem. Mas ameaça de morte? Ou seja, não pode revelar a verdade? Não pode abrir a boca? Isso é absolutamente grave”, disse.