O estilista Carlos Tufvesson, homossexual e casado, militante de
direitos civis e humanos, dá sua opinião sobre o triângulo gay formado por
Félix, Niko e Eron na novela 'Amor à Vida', de Walcyr Carrasco, que termina
hoje, sexta 31. O estilista condena o preconceito que ainda existe na sociedade
e que é espelhado na teledramaturgia. "Traumas" da vida real, diz
Tufvesson, "transformam carneirinhos do bem em Félix".
Por Carlos Tufvesson
Gilberto Braga e
Ricardo Linhares em “Insensato Coração” mostraram muito bem a cara pavorosa da
homofobia e da importância da denúncia e de exercer seus direitos civis.
Walcyr Carrasco
introduziu a "bicha má" e levou aos telespectadores o dia a dia de um
casal do mesmo sexo que tem os mesmos desejos, problemas, alegrias, tristezas e
amor que qualquer outro casal que divide a vida a dois. E que, como
muitos, quer até constituir família.
Daí veio a
discussão da inseminação, para gerar esse filho ou a adoção e a luta pela
guarda, mostrando como o não reconhecimento de nossos direitos civis na
integralidade pode ter conseqüências graves na vida de um cidadão.
Apesar disso, esse
casal não se beija. E o beijo é o símbolo do afeto. É estranha essa celeuma em
algo tão bonito e tão natural entre pessoas que se amam. Um falso moralismo seletivo
que, por ironia, não atinge cenas de explicita nudez ou de violência!
Mas sim a
manifestação do amor!
Eis o grande
paradoxo de Amor à Vida.
Como um casal que
se ama a ponto de constituir família não se beija? Ou, se o faz, seria às
escondidas?
E aí vem a grande
ironia:
Niko, por ser
construído como um personagem bem família, que se apaixona, é do bem e quer ser
respeitado pelo caminho de vida que está construindo, terminou por cativar e
trazer ao grande público um entendimento sobre o amor, igual ao de qualquer
outro, em um casal do mesmo sexo, até então nunca visto na teledramaturgia.
Niko tem dois valores muito esquecidos em nosso país: ética e caráter.
Como já foi
noticiado que a cena do beijo foi gravada, 'Amor à Vida' hoje tem a chance e
até o dever de atender a esse público que torce pelo amor dos dois. Dele e de
Félix.
O país, após
decisão do STF, começou a ver com outros olhos o amor em casais do mesmo sexo.
Não pode a teledramaturgia brasileira ficar em descompasso desse momento.
É a primeira novela
em que um casal “mocinho” protagonista e hétero é desbancado por um casal do
mesmo sexo, numa prova interessantíssima de que nós, brasileiros, somos sim
pela emoção e pelo amor.
O que estimula o
preconceito é a distorção e o maniqueísmo, as vezes criminoso, que traz
infelicidade à vida de tantas pessoas, à toa.
Traumas que
transformam carneirinhos em Félix.
VIVA O AMOR!
VIVA A VIDA!
Fonte:Época
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