Segundo os profetas do fim do
mundo, algum misterioso cataclismo deverá atingir a Terra nos próximos
dias e pôr fim a toda a vida em sua superfície — dos homens às
bactérias. Para os cientistas, no entanto, a profecia é uma bobagem. O
mundo não acaba no ano 2012. Mas isso não quer dizer que a história do
planeta — e da vida nele — vá durar para sempre.
Os profetas do apocalipse maia se
baseiam em inscrições realizadas em pedaços de pedra com mais de mil
anos, descobertas no século 20 e mal interpretadas desde então. Essas
inscrições representariam o calendário usado pelo povo maia, que duraria
exatos 5.125 anos e teria fim precisamente no próximo dia 21. Daí para
concluir que eles previram o fim do mundo foi um pulo. Um dos primeiros a
destacar essa data foi o escritor americano — e teórico da Nova Era —
José Argüelles. No livro O Fator Maia, escrito há 25 anos, ele misturou
misticismo, astrologia e arqueologia para dizer que os maias previram
que 2012 marcaria uma nova era de paz e harmonia na Terra.
A ideia foi ganhando adeptos —
principalmente dentro das fileiras do misticismo e da ufologia — e se
transformando até que 2012 passasse a representar o fim da espécie
humana. Com a proximidade da data, o apocalipse maia virou um fenômeno
pop. Foi tema de filmes, revistas, livros, palestras. Segundo uma
pesquisa da Ipsos Global Public Affairs, pelo menos 10% das pessoas ao
redor do mundo sentem algum tipo de medo ou ansiedade em relação à data.
Mas, quando elas acordarem no dia 22 e nada tiver mudado, existe um
povo que elas não poderão culpar pelo engano: os próprios maias.
Calendários e ciclos
Em
outubro, líderes religiosos maias se reuniram na Guatemala. Eles faziam
parte de um grupo chamado Oxlajuj Ajpop, que tem por função defender as
tradições de seu povo. Todos se diziam ultrajados com o que estava
sendo veiculado sobre as previsões de fim do mundo. "Nós estamos nos
pronunciando contra a falsidade, as mentiras e a distorção da verdade,
que nos transformam em folclore em busca de lucros. Eles não estão
dizendo a verdade sobre os ciclos de tempo", disse Felipe Gomez, líder
do Oxlajuj Ajpop à agênciaFrance-Presse.
Os maias foram uma civilização
avançada que habitou o sul do México e o norte da Guatemala entre os
anos 1.800 a.C. e 950 d.C. Eles foram capazes de decifrar e prever o
movimento de estrelas e planetas por anos. Pensavam também que pela
leitura dos astros poderiam antever como as coisas aconteceriam aqui na
Terra. Mesmo assim, nunca previram o fim do mundo.
Acontece que o calendário
mencionado pelos que esperam pelo apocalipse é apenas um dentre os
muitos que os maias usavam. Ele é o calendário de contagem longa, que
estipula grandes unidades de tempo. Nele, cada 20 anos (ou tuns, como
eram chamados) formavam um katun. Cada 20 katuns formavam um baktun, sua
maior unidade de tempo. Depois de 13 baktuns, ou 5.125 anos, o
calendário recomeçava do zero. Segundo as evidências arqueológicas, é
esse recomeço que está marcado para o próximo dia 21.
Mas isso não queria dizer muita
coisa. Pesquisadores sérios, que se debruçaram sobre as inscrições,
dizem que os maias encaravam o fim do calendário como o fim de uma era.
Depois de chegar à data final, a contagem de tempo simplesmente
recomeçaria – como os ocidentais fazem quando seu calendário chega ao
dia 31 de dezembro.
Ciência do fim do mundo
Apesar
de baterem de frente com os defensores do apocalipse maia, os
cientistas não afirmam que a vida humana vá durar para sempre. Ao
contrário, eles sabem que a história dos Homo sapiens, e da civilização
que conseguiram construir no terceiro planeta do Sistema Solar, terá de
chegar ao fim - em um futuro ainda distante. Daqui a um bilhão de anos, a
radiação solar deve aumentar de intensidade a ponto de queimar o que
estiver vivo e evaporar toda a água da Terra. Se o homem conseguir bolar
algum jeito de sobreviver, em quatro bilhões de anos a Galáxia de
Andrômeda deve se chocar com a Via Láctea, causando uma série de
colisões estelares. Se a Terra passar incólume, em cinco bilhões de anos
o Sol se tornará uma estrela gigante vermelha, e consumirá o planeta em
suas chamas.
Mas não é necessário esperar tanto
tempo. No passado, extinções em massa já foram causadas pela atividade
vulcânica e por mudanças climáticas. Há 65 milhões de anos, o impacto de
um asteroide causou a extinção dos dinossauros. Não se sabe quando
esses tipos de eventos podem voltar a acontecer. Segundo alguns
cálculos, pelo menos 99% das espécies que já habitaram o planeta estão
extintas. Até quando a humanidade pode driblar seu destino inescapável?
Correndo contra o tempo
Os
cientistas, no entanto, não defendem que fiquemos parados frente a
estes prognósticos desastrosos. Duas das mais importantes universidades
do mundo já criaram centros dedicados a estudar os riscos que podem pôr
fim à vida humana e a pensar, se possível, em modos de preveni-los. Em
2005, a Universidade de Oxford criou o Instituto do Futuro da Humanidade
dentro de sua Faculdade de Filosofia. Em 2012, a Universidade de
Cambridge uniu pesquisadores da filosofia, cosmologia e do
desenvolvimento de softwares para dar início ao Centro para o Estudo do
Risco Existencial.
Fonte:Revista Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário