O primeiro deles vai acontecer nesta terça-feira, 04, a partir das 18h, no gramado da Faculdade de Farmácia. Trata-se, na verdade, de um “pré-beijaço” intitulado Pré-Beijaço contra a Homofobia na USP.
A segunda manifestação será na quinta-feira, 20, em frente ao prédio da Farmácia da USP, na Av. Prof. Lineu Prestes, 580, às 18h30, com o tema Tire o seu Parasitismo da Frente, que Eu Quero Passar com o Meu Amor.
Leia o manifesto na íntegra:
BEIJOS PARA DESPARASITAR A FARMÁCIA USPIANA
O pasquim "O Parasita", editado pelos estudantes de Farmácia da USP publicou em sua última edição uma promoção polêmica. O texto explicitamente homofóbico, com pretensões satíricas convidava os alunos a jogar fezes em alunos gays que freqüentam o campus. Os editores prometiam em troca “convites” gratuitos para a Festa Brega.
Em um Estado democrático é intolerável que tal comportamento declaradamente homofóbico – e mais ainda -, violento e ameaçador, seja tolerado e encontre eco.A sociedade não pode ficar refém daqueles que abusam de seu direito à liberdade de expressão ou mesmo de imprensa para atacar covardemente – lembrem-se que o texto foi escrito de forma anônima – uma parcela da população brasileira, seja ela qual for.
Vale lembrar que a Constituição Federal veda o anonimato, assim com a lei condena a homofobia e, acima de tudo, defende a dignidade humana e os direitos humanos A sociedade deve repudiar tais atitudes: a homofobia, a violência e a ameaça. Um ambiente acadêmico e de alto nível como a USP não pode ser palco para demonstrações preconceituosas e para a perpetuação de lugares-comum e estereótipos preconceituosos e discrepantes ao ambiente e à humanidade.
O respeito e a convivência com semelhanças e diferenças é um princípio básico para a coexistência humana e, o ambiente acadêmico deve ser marcado com este respeito e este convívio para que seja perpetuado e reproduzido.
Longe de aceitar que o assunto seja tratado como mera brincadeira inconsequente ou como algo corriqueiro, a sociedade, e a comunidade uspiana, devem agir de forma decidida, firme e direta, contra este tipo de demonstração incompatível com a vida em sociedade.
Um beijo, contração e distensão muscular, encontro de corpos que só se dá na liberdade. Na farmacopéia da terapêutica da existência, não há receita melhor para combater o parasitismo que gera a discriminação e a homofobia que o exercício democrático da liberdade. Liberdade, que para a jazzista Nina Simone, é não precisar sentir medo do outro. Beijar é, politicamente, o ato mais simples que o desejo pode construir. Ainda mais, se ele unir a liberdade à terapêutica anti-parasitária e à uma profilaxia do existir. Sem frustrações, sem dor, sem medo. Beijar é um ato político, ao mesmo tempo simples e radical. Uma forma de alargar o espaço da liberdade e da democracia.
Nada que os parasitados Parasitas, homofóbicos (com ênfase no fóbicos, pois que o medo que eles cultivam é o pai da violência que os domina), suportem. Ver um beijo livre é a dor suprema para quem teve os lábios selados pelo parasitismo da frustração.
Por isso, e para enfraquecer essa força coercitiva que se insinua como predominante no curso de Farmácia da USP, é que convocamos todas as pessoas livres (ou seja, quem quiser e puder participar), para um beijaço (Kiss IN), no dia 20 de maio, às 18:30 horas, em frente ao prédio da Farmácia/USP[1]
‘Tire o seu parasitismo da frente, que eu quero passar com o meu amor.’
Todos aqueles que se sentiram ofendidos pelo texto de ódio, brasileiros ou não, homossexuais ou não, estão convidados para participar desse ato independente de sua orientação sexual.”
Pedido de desculpas.
No último dia 24, os editores do jornal (sem se identificarem) enviaram um e-mail aos meios de comunicação pedindo desculpas. Afirmaram que era apenas uma brincadeira e que não incitaram a violência contra os homossexuais.
O caso de incitação à violência contra os homossexuais está sendo investigado. A Comissão Processante Especial da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania (SJDC) abriu um processo para investigar o caso e encaminhou denúncia à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). No entanto, até agora, não identificaram o autor do texto.
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