O deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ) reverbera na mídia um discurso presente em nossa cândida sociedade de
que ter filho gay é consequência de falta de porrada durante a infância. Pois
bem,quarta-feira 17 de fevereiro, veio à baila a crueldade cometida por um pai que seguiu
este ensinamento. Alex Moraes Soeiro, 34 anos, morador da comunidade de Villa
Kennedy, zona oeste do Rio, jogou toda sua força contra o filho de oito anos,
espancando-o até a morte. Motivo: o garoto gostava de lavar louça e não queria
cortar o cabelo.
O preso disse que
espancava o menino para “ensiná-lo a virar homem”, porque, segundo o pai, o
garoto gostava de dança do ventre, tinha o hábito de vestir as roupas das irmãs
e gostava de lavar louça. Levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da
região, o menino faleceu horas depois após sofrer hemorragia interna em razão
do espancamento.
De acordo com a Secretaria
Nacional de Direitos Humanos, a grande maioria das denúncias de homofobia
recebidas pelo Disque 100 (em 2011 foram quase 7 mil) são de violências sofrida
por gays dentro de casa, 42%.
Casos de barbárie como o ocorrido
em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Um pecuarista espancou o próprio filho
homossexual em julho do ano passado. O rapaz de 16 anos
ainda foi ameaçado pelo pai de ser arrastado pelas ruas da cidade. O jovem
chegou a ter as pernas amarradas a uma caminhonete. O produtor rural, que não
teve o nome revelado, foi indiciado por injúria e tortura.
Tem um pensamento repetido
por homossexuais que resume bem o desamparo de crianças e adolescentes LGBTs.
Uma criança negra que sofre racismo na escola, volta para casa e encontra o
abraço da mãe, mas uma criança gay que sofre homofobia na escola, volta para
casa e está sozinha.
Para
muitos, o nível de violência homofóbica chega ao nível do insuportável . Uma
pesquisa divulgada na publicação científica Pediatrics mostra que crianças LGBTs rejeitadas
pelos pais correm seis vezes mais riscos de sofrer com altos níveis de
depressão e tentam o suicídio oito vezes mais na comparação com heterossexuais
de mesma faixa etária. Para citar apenas um episódio, tratamos recentemente do caso do menino de 11 anos que tentou se suicidar após
sofrer bullying homofóbico.
Bolsonaro virou uma
caricatura de si mesmo. Suas aparições em programas de televisão popularescos
como Superpop e etc são usadas apenas para levar humor ao telespectador no
final da noite.
Mas
ainda tem muita gente que o leva a ferro e fogo. Muita mesmo. Em 2010, foi
eleito com 120 mil votos. Provavelmente sua votação deve ser ainda mais
expressiva na próxima eleição, pela mídia que conseguiu nos últimos quatro anos
ir ao encontro do pensamento de gente reacionária.
E
o deputado vai dizer o quê? Que não estava falando em morte quando se referia a
“levar um couro”? Que esse pai provavelmente não tinha a intenção de matar o
filho. Mas, e agora? Alguém vai devolver a vida a esse garoto?
Jair
Bolsonaro vai poder abraçar os seus filhos, os mesmos que repetem o seu
discurso de ódio a gays quando voltar para casa. Porém, esse garoto não tem
mais o direito ao abraço de ninguém.
Até
quando continuaremos produzindo novos “Alex” e novos filhos mortos por seus
pais? Até quando pais vão continuar mais se importando se o filho ou a filha
brinca de carrinho ou de boneca do que com amor e respeito? Os pais precisam
perceber a desgraça que promovem na cabeça das crianças quando tentam impor a
orientação sexual ou identidade de gênero, que, comprovada cientificamente por
centenas de estudos, é algo com base genética. Os dados sobre depressão e
suicídio são claros. O seu filho não vai deixar de ser homossexual, bissexual
ou transexual porque você quer. Não vai e não adianta torturá-los.
Até
quando o poder público vai continuar assistindo de braços cruzados a violência
homofóbica cotidiana em nosso país. Lamentar morte depois do ocorrido é muito
pouco diante de tanto sofrimento.
A
homofobia mata e precisa ser tratada com políticas públicas que promovam o
esclarecimento à população desde nossas crianças até a vida adulta.
Texto publicado em pragmatismo politico.com.br
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