Anyky foi expulsa de casa aos 12 anos e acredita estar viva por ter entrado para a militância |
Os motivos são inúmeros, passando pelas modificações no corpo, uso de drogas e doenças sexualmente transmissíveis, a violência das ruas e entre elas mesmas e, finalmente, o preconceito. “Em nossas pesquisas, observamos que 98% das travestis entrevistadas já sofreram violência física – com uso de armas ou agressão corporal. A trajetória da violência começa com a família e segue por uma série de outras coisas ao longo dos anos. É possível inferir que a vida delas é, de fato, menor do que a de outros grupos”, explica o psicólogo e coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Aurélio Prado.
Para Prado, a expulsão e a saída de casa estão diretamente relacionadas à entrada na prostituição. “Seja por necessidade ou trabalho, são vidas mais vulneráveis. Além disso, é um grupo populacional que tem menos políticas de promoção de direitos”, revela. O especialista ainda acredita que a baixa escolaridade e o afastamento do trabalho formal também são fatores que, com a violência, medem a vulnerabilidade do grupo.
Relatos. Anyky Lima foi expulsa de casa aos 12 anos, e foi aí que a transformação começou. Foi batizada pelas amigas na rua e, como única saída para sobreviver, se prostituiu. Ela é uma das poucas que resistiram à pressão de toda a violência a que são expostas.
“Paguei o meu INSS, tenho uma aposentadoria e vivo como posso. Hoje, a sociedade me engole. Mas isso porque eu fui para a militância. Normalmente, não há lugar para as trans velhas. Elas não são respeitadas no bairro, no hospital, e a maioria não tem família. É tudo muito difícil”, conta.
Sissy Lopes já esteve à beira da morte várias vezes, até que resolveu mudar de vida |
Outra travesti, Sissy Kelly Lopes, 59, hoje mora em uma casa de apoio para pessoas com o vírus HIV e também milita pela causa. Ela é soropositivo, foi dependente química e concorda com Anyky sobre o fato de que poucas delas chegam à terceira idade. Ela conta que já ganhou muito dinheiro e já morou fora do país, mas tudo isso vai e vem.
“Já sobrevivi a muitas coisas. Mesmo com a Aids, já estive muito mais perto da morte. Passei situações de muita violência e já tive uma overdose de heroína. Foi nesse momento que aceitei a minha doença e decidi me cuidar. Mas não são todas que conseguem tomar essa decisão”, afirma.
Denúncias
Idade.De acordo com dados levantados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 70% das denúncias de violência recebidas pelo Disque-Direitos Humanos no Estado de Minas Gerais envolvem pessoas que têm entre 18 e 35 anos.
Perfil. Exceto as denúncias em que não se informa orientação sexual, as travestis são as que mais utilizam o serviço Disque-Direitos Humanos.
Idade.De acordo com dados levantados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 70% das denúncias de violência recebidas pelo Disque-Direitos Humanos no Estado de Minas Gerais envolvem pessoas que têm entre 18 e 35 anos.
Perfil. Exceto as denúncias em que não se informa orientação sexual, as travestis são as que mais utilizam o serviço Disque-Direitos Humanos.
Argentina
Na Argentina, parlamentares querem instituir bolsa mensal para travestis, transexuais e transgêneros com mais de 40 anos que morem em Buenos Aires – uma espécie de aposentadoria precoce. O benefício proposto é de 8.000 pesos, cerca de R$ 2,4 mil. A maior parte das travestis no país trabalha em atividade sexual – mais vulnerável à violência e a traficantes.
Na Argentina, parlamentares querem instituir bolsa mensal para travestis, transexuais e transgêneros com mais de 40 anos que morem em Buenos Aires – uma espécie de aposentadoria precoce. O benefício proposto é de 8.000 pesos, cerca de R$ 2,4 mil. A maior parte das travestis no país trabalha em atividade sexual – mais vulnerável à violência e a traficantes.
BÁRBARA FERREIRA PARA PORTAL O TEMPO
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