Crianças do sexto ano do colégio Marista Ipanema, na zona sul de Porto Alegre, teriam recebido ensinamentos homofóbicos vindos de uma professora de ensino religioso há cerca de dez dias. De acordo com a mãe de uma menina que estuda na turma, a professora declarou que “os filhos de homossexuais eram crianças infelizes”, “que a homossexualidade era uma doença que tinha que ser tratada”, e que “homossexuais tinham que procurar ajuda”.
Uma aluna postou em seu perfil no Facebook relatos do caso, explicando que a professora teria dito que “ser gay é um problema”. A menina então teria discutido, alegando que “Deus ama a todos”, o que levou à resposta de que “Deus criou o homem para a mulher” por parte da professora. Desde então, dois estudantes encaminharam uma reclamação para a diretoria da escola. A mãe de uma das alunas também entrou em contato com o colégio Marista Ipanema e exigiu a realização de uma reunião, que acontecerá, com a presença da professora e da diretoria.
Para a mãe de uma aluna de dez anos que assistiu à aula, as colocações da professora vão na contramão dos preceitos defendidos pelas escolas maristas. “Se você pegar o encarte da rede Marista, ali fala em ‘diminuir desigualdades’ e ‘compartilhar valores’. Ou seja, (a colocação da professora) vai completamente contra o que a escola diz”, explica. “Eles (a escola) me disseram: ‘foi apenas uma professora, foi um fato isolado’. Mas ela tem que saber quais os preceitos da rede Marista. Ela não pode ir para dentro de uma sala de aula e dizer uma besteira dessas”, completou.
Thales Vinícius Bouchaton, advogado, integrante da ATEA (Associação de Ateus e Agnósticos) e membro do Comitê de Liberdade Religiosa do governo estadual, explicou que foi informado do caso pelas postagens nas redes sociais. Para ele, a professora estava “destilando preconceitos” com suas declarações. “Por mais que o colégio seja católico, é crime incentivar esse tipo de coisa”, disse.
De acordo com a mãe que marcou a reunião com a escola, esse tipo de colocação é perigosa porque pode influenciar no pensamento das crianças do sexto ano, que têm entre dez e onze anos. Apesar de entender o caráter católico da instituição, ela defende que não é o papel da escola “evangelizar” os alunos, nem pregar a intolerância. “Eu não vou compactuar com esse tipo de preconceito horrível. A aula de religião é para ensinar sobre todas as religiões, não para catequizar”, afirmou.
A reportagem do Sul21 entrou em contato com o colégio Marista Ipanema, que, através de sua assessoria de imprensa, informou que não se manifestaria sobre este caso específico, mas que a instituição “está sempre aberta a receber as famílias”. Além disso, confirmou que haverá uma reunião para tratar do caso nesta quarta-feira (14).
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