Uma das principais vítimas de uma suposta rede de tráfico de pessoas
com ramificações no Estado do Amazonas, a travesti Bruna Valadares, 27,
prestou depoimento na manhã desta segunda-feira (10) , na Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, que apura ocorrências
em níveis nacional e internacional. Essa é a segunda vez que a CPI vem à
capital amazonense. A primeira ocorreu em julho deste ano.
A CPI, que tem como relatora a senadora Vanessa Graziottin
(PCdoB/AM), colheu os depoimentos de Bruna, natural do município de
Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), que em maio deste ano, com o
sonho de ajudar a família, embarcou para São Paulo depois que recebeu um
convite para trabalhar, mas foi enganada e passou à condição de vítima
do tráfico.
A comissão veio a Manaus, também, apurar o suposto desaparecimento de
20 garotas no município de Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus).
Durante a audiência, realizada no miniplenário Cônego Azevedo, da
Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), o delegado do município José
Elcy Barroso negou a existência do tráfico no município. Ele deixou
claro aos parlamentares que nos casos investigados as garotas deixaram o
município por conta própria, mas não convenceu os integrantes da CPI.
Sub-relator da comissão, o senador Paulo Davim (PV/RN) lamentou o
fato de o delegado minimizar os casos e de ter afirmado “não existir
nenhuma vítima de tráfico humano em Iranduba”. Segundo Alvim,
levantamentos de dados e recolhimento de informações continuarão, pois é
necessário esclarecer os casos do município, tendo em vista que a
polícia não soube informar dos relatos no desaparecimento das garotas.
Para a senadora Lídice da Mata (PSB/PA) também não cabe ao delegado
julgar as vítimas, nos casos de serem usuárias de drogas ou por já terem
vida sexual ativa.
Vários órgãos de combate à violência, à prostituição e ao tráfico de
pessoas no Estado tiveram representados na audiência. Um dos fatos mais
relatados pelos parlamentares é a de que a maioria das vítimas é
cooptada nos festivais folclóricos da região, como ocorreu com Bruna
Valadares, que estava no Festival Folclórico de Parintins quando foi
convencida a ir para São Paulo, por uma outra travesti de Macapá, com o
objetivo de mudar de vida e modificar o corpo, implantando silicone.
Bruna relatou todo o procedimento tomado e as dificuldades para retornar
a Parintins, das ameaças e constrangimentos passados. Por segurança e
por ser testemunha principal da comissão, a travesti está sendo
escoltada por policiais militares.
Vanessa Grazziotin explicou que o crime de tráfico humano não se
caracteriza pela prática da viagem forçada. “As vítimas, geralmente, são
pessoas em situação social vulnerável que são aliciadas com promessas
de melhores oportunidades. “Esse crime é real, invisível e de difícil
diagnóstico porque existem muitas pessoas como o delegado Elcy que
minimizam a situação de risco e de aliciamento das vítimas”, comentou a
presidente da CPI
Grazziotin, explicou que após a conclusão do relatório, previsto para
este mês, a comissão irá acompanhar o processo da prisão dos principais
suspeitos dos casos investigados. “A CPI foi criada para combater o
tráfico existente no país e não poderíamos deixar o Estado do Amazonas,
pois sabemos que há relatos em diversos municípios. O caso da Bruna é
um exemplo desses, mas temos outros quatro casos em que as famílias
apenas receberam os corpos das vítimas, sem mais nenhuma informação e
todos envolvidos com o tráfico de pessoa”, afirmou a senadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário