sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Fé e sexualidade viram pauta eleitoral


A prefeita e candidata à reeleição Luizianne Lins (PT) não foi a única a se sentir ofendida pela campanha promovida pela Convenção de Ministros das Assembléias de Deus Unidas do Ceará (Comaduec). O Grupo de Resistência Asa Branca (Grab) e a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) lançaram nota de protesto contra o que consideraram como incitação à homofobia.
O material patrocinado pela Comaduec contava, além da frase "Luizianne é contra a Bíblia e o povo de Deus" em cartazes e outdoors, com panfletos em que eram listados seis motivos para os eleitores não votarem na candidata do PT à Prefeitura. Entre os pontos, está a alegação de que a Prefeitura estimularia a homossexualidade por meio da revista Farol e que a prefeita dividiria a administração com um "exército de sodomitas".
Na nota divulgada pela ABGLT, o grupo faz questão de ressaltar que o Estado é democrático e que há liberdade de expressão, mas que essa campanha "é nitidamente discriminatória em relação à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais)". O Grab também reagiu. "Fortaleza dá sinais evidentes de que é contra a intolerância, contra a discriminação e que repudia aqueles(as) que, usando de sua fé religiosa, querem pregar o desrespeito, o ódio e a violência", lê-se no texto enviado à imprensa.
Francisco Pedrosa, presidente do Grab, destacou, contudo, que considera essa manifestação como "muito localizada" entre os evangélicos. "Inclusive a gente nem sabia que (a Comaduec) existia", disse. Segundo ele, por vezes, algumas igrejas extrapolam seu papel e "querem se meter nas políticas públicas". Pedrosa assinalou ainda que o grupo procura desautorizar o preconceito a partir do próprio discurso religioso. "A gente sempre diz que quem chama Deus de pai tem a obrigação de chamar lésbicas, gays, travestis e transexuais de irmãos".
O presidente do Grab disse que o grupo também quer saber se há algum candidato por trás da campanha anti-Luizianne. Segundo ele, a entidade não apóia nenhum dos concorrentes, mas pretende promover contra-campanha em relação ao responsável, no caso de ficar provado que algum partido está por trás da manifestação encabeçada pela Comaduec.
O evangelista J. Menezes, assessor do bispo Shelley Macêdo, presidente da Comaduec, afirma que a campanha não tem como alvo a comunidade LGBT. O material distribuído citava uma edição da revista Farol em que havia, segundo Menezes, uma "visão deturpada da sexualidade humana". Mas "a questão dos homossexuais é outra coisa", diz.

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