Um estudo divulgado em Washington nesta semana, durante a 19ª
Conferência Internacional da Aids, afirma que dois homens com HIV não
apresentaram sinais do vírus no período de oito e 17 meses,
respectivamente, depois de receber transplantes de células-tronco devido
a uma leucemia.
A pesquisa feita por Daniel Kuritzkes, professor de medicina do Hospital
Brigham and Women, em Massachusetts, traz a possibilidade de que os
dois homens estejam livres do HIV.
Os pacientes receberam transplantes de medula de doadores com receptor
CCR5, mas segundo os pesquisadores, a manutenção do tratamento com
antirretrovirais durante o processo impediu que as células doadas fossem
infectadas e permitiu que proporcionassem aos pacientes novas defesas
imunitárias.
Os dois casos são diferentes do famoso "paciente de Berlim", o americano
Timothy Brown, que se considera curado do HIV e da leucemia após
receber um transplante de médula óssea de um raro doador que possuía
resistência natural ao HIV (sem receptor CCR5, que age como porta de
entrada do vírus nas células).
Tratamento experimental
Brown, 47 anos, um ex- HIV positivo de Seattle, nos EUA, ficou famoso
depois de passar por um novo tratamento de leucemia com células-tronco
de um doador resistente ao HIV e desde então não apresenta traços do
vírus.
Depois de 2007, Brown passou por dois transplantes de alto risco de
medula óssea e seus testes continuam a indicar negativo para o HIV,
impressionando os pesquisadores e oferecendo perspectivas promissoras
sobre como a terapia genética pode levar à cura da doença.
"Eu sou a prova viva de que pode haver uma cura para a Aids", disse
Brown em uma entrevista. "É maravilhoso estar curado do HIV". Brown
parecia frágil quando se reuniu com jornalistas durante a XIX
Conferência Internacional sobre a Aids, o maior encontro mundial sobre a
pandemia, realizada durante esta semana na capital americana.
O transplante de medula óssea é delicado e um a cada cinco pacientes não
sobrevive. Mas Brown afirma que apenas sente dores de cabeça
ocasionais. Também disse estar consciente de que sua condição gerou
polêmica, mas negou as afirmações de alguns cientistas que acreditam que
ele pode ter traços de HIV no corpo e que pode contaminar outros. "Sim,
estou curado", declarou. "Sou HIV negativo".
Prazo de vida
Brown estudava em Berlim quando descobriu ser HIV positivo, em 1995. Na
época, deram-lhe dois anos de vida. Contudo, um ano depois, apareceu no
mercado a terapia antirretroviral combinada, que fez com que o HIV
deixasse de ser uma sentença de morte e passasse a uma doença
controlável por milhões de pessoas em todo o mundo.
Brown tolerou bem as drogas, mas com fadiga persistente visitou um
médico em 2006 e foi diagnosticado com leucemia. Passou por
quimioterapia, o que lhe causou uma pneumonia e uma infecção que quase o
matou.
A leucemia voltou em 2007 e seu médico, Gero Heutter, cogitou um
transplante de medula óssea com um doador que tinha uma mutação do
receptor CCR5. Pessoas sem este receptor parecem ser resistentes ao HIV,
porque não têm a porta através da qual o vírus entra nas células. Mas
essas pessoas são raras: cerca de 1% da população do norte da Europa.
A nova técnica pode ser uma tentativa para curar o câncer e o HIV, ao mesmo tempo.
Brown foi submetido a um transplante de medula óssea com células-tronco
de um doador com a mutação CCR5. Ao mesmo tempo, parou de tomar
antirretrovirais. No fim do tratamento o HIV não foi mais identificado
em Brown. Mas sua leucemia retornou, e por isso foi submetido a um
segundo transplante de medula em 2008, utilizando as células do mesmo
doador.
Brown afirmou que sua recuperação da segunda cirurgia foi mais
complicada e o deixou com alguns problemas neurológicos, mas continua
curado da leucemia e do VIH. Quando perguntam se acredita em um milagre,
Brown hesita. "É difícil dizer. Depende de suas crenças religiosas, se
você quer acreditar que foi a ciência médica ou que se trata uma
intervenção divina", disse. "Eu diria que é um pouco dos dois".
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